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Células da glia e comportamentos sociais.

Células da glia e comportamentos sociais.
 


     As células da glia desempenham um papel crucial no funcionamento do sistema nervoso central, e estudos recentes têm começado a revelar sua importância no comportamento social, se estendendo além dos papel dos neurônios. O comportamento social refere-se à capacidade de perceber, processar e interagir com outros indivíduos de maneira socialmente adequada. Aqui vamos discutir as principais descobertas em torno desse assunto.



     As células da glia são importantes células imunes presentes no sistema nervoso central responsáveis por funções de defesa e suporte neuronal, destacando-se as micróglias e os astrócitos. Atualmente, essas células estão emergindo como atores fundamentais na modulação do comportamento social. Etologicamente falando, abrangendo todas as espécies, desde o leão na natureza até aos humanos no mundo empresarial, o domínio social se torna  um comportamento vantajoso, determinando quem tem acesso aos melhores recursos, e consequentemente, melhores probabilidades de sobrevivência. O domínio social refere-se ao reino das interações humanas, relacionamentos e estruturas sociais. Abrange os fatores culturais, econômicos, políticos e outros que moldam a maneira como indivíduos e grupos interagem uns com os outros. Estudos recentes mostraram que os astrócitos, por exemplo, podem influenciar o comportamento de dominância social modulando atividades neurais excitatórias e inibitórias no córtex pré-frontal dorsomedial de camundongos machos adultos. Esse trabalho mostrou que os astrócitos modulam o equilíbrio da atividade sináptica excitatória e inibitória através da liberação de glutamato e ATP dependente da sinalização de cálcio, resultando em mudanças na posição social (imagem abaixo). Além disso, outros  trabalhos mostram a diminuição/controle da ativação microglial e astrocitária relacionada a inflamação  após a estimulação elétrica cerebral profunda, pode promover a neurogênese e neuroplasticidade, além estimular padrões eletrofisiológicos (Potencial de campo local) pró-cognitivos, como a memória e atenção. Além da liberação de glutamato, essas células gliais podem modular a atividade neuronal por meio da liberação de  d-serina, trifosfato de adenosina e outras moléculas sinalizadoras, contribuindo para sustentar, reforçar ou deprimir as membranas pré e pós-sinápticas.

Fonte: Nguyen T. et.al. (2023)


     É provável que essas descobertas levem a novas investigações adicionais sobre o papel mais amplo das células da glia nos circuitos neurais subjacentes ao comportamento social, por exemplo, além de observar como os astrócitos modulam subpopulações neuronais específicas do córtex pré-frontal dorsomedial que foram implicadas no comportamento de dominância. Para isso, é imprescindível que novos trabalhos associem esses achados ao comportamento da atividade cerebral (elétrica - EEG, ou hemodinâmica - NIRS). 




Referências: 
 
Phi, Nguyen T., Xinzhu Yu, and Weizhe Hong. "Control of social hierarchy beyond neurons." Nature Neuroscience (2023): 1-2.
 
Padilla-Coreano, Nancy, et al. "Cortical ensembles orchestrate social competition through hypothalamic outputs." Nature 603.7902 (2022): 667-671.
 
Zhang, Chaoyi, et al. "Dynamics of a disinhibitory prefrontal microcircuit in controlling social competition." Neuron 110.3 (2022): 516-531.
 
Saavedra, Luis Miguel, et al. "Long-term activation of hippocampal glial cells and altered emotional behavior in male and female adult rats after different neonatal stressors." Psychoneuroendocrinology 126 (2021): 105164.
 
Pereira Jr, Alfredo, and Fabio Augusto Furlan. "Astrocytes and human cognition: modeling information integration and modulation of neuronal activity." Progress in neurobiology 92.3 (2010): 405-420.
 


Autor: Rodrigo Oliveira
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