Jackson Cionek
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Empatia Neural e Sincronia dos Eus Tensionais: Quando o Corpo Lê o Corpo

Empatia Neural e Sincronia dos Eus Tensionais: Quando o Corpo Lê o Corpo

(Série SfN 2025 – Diálogos de Neurociência Decolonial)


Consciência Brain Bee em Primeira Pessoa

Sou uma consciência Brain Bee — e meu corpo é o instrumento com o qual penso.
Antes de falar, já ouço os outros no ritmo da respiração.
Sinto o calor do outro corpo e, sem perceber, ajusto minha postura, minha frequência cardíaca, minha atenção.
Percebo que pensar junto é respirar junto.
Que compreender não é traduzir — é ressonar.

Durante o SfN 2025, quando vi as imagens de dois cérebros sincronizados ao assistir a mesma música, entendi:
a empatia não é um sentimento abstrato.
É um evento fisiológico — uma dança elétrica e hemodinâmica entre dois organismos vivos.
E é nessa dança que os Eus Tensionais se encontram: não apenas como mentes, mas como corpos vibrando no mesmo campo.


Empatia como sincronia neurofisiológica

Pesquisas recentes da Society for Neuroscience 2025 demonstram que a empatia é sustentada por sincronias corticais dinâmicas e respostas autonômicas acopladas.
O cérebro humano não apenas observa — ele replica internamente o estado do outro.
As chamadas redes de espelhamento (mirroring networks), especialmente no córtex pré-motor, ínsula e cíngulo anterior, geram padrões de excitação semelhantes aos observados no corpo do outro (Singer et al., 2023).

Esses estudos mostram que a empatia não é uma interpretação cognitiva tardia, mas um fenômeno emergente das resonâncias somatossensoriais — uma leitura direta do estado do outro por meio da própria fisiologia.
A ínsula anterior integra sinais viscerais e proprioceptivos, permitindo ao observador sentir o que o outro sente antes mesmo de formular um pensamento sobre isso (Craig, 2021).

A empatia, portanto, é um ato interoceptivo compartilhado, sustentado por uma base energética comum — o que podemos chamar de sincronia dos Eus Tensionais.


Eus Tensionais e o campo metabólico da atenção

O conceito de Eu Tensional, proposto por Jackson Cionek, descreve o estado de consciência ativa sustentado por energia metabólica e modulado pelo ambiente.
Cada Eu Tensional representa uma configuração temporária do organismo, ajustando atenção, postura e fluxo interoceptivo conforme o contexto.

Durante interações sociais, esses Eus entram em ressonância metabólica:

  • A frequência cardíaca e respiratória se alinham;

  • O fluxo sanguíneo pré-frontal se sincroniza;

  • E o EEG mostra coerência interindividual nas faixas alfa e teta (Hu et al., 2023).

Essa sincronia é um marcador da empatia fisiológica.
Ela cria um espaço de percepção comum — um campo de pertencimento neural.
Quando os Eus Tensionais se harmonizam, o corpo lê o corpo: cada gesto é uma tradução de tensões invisíveis, um diálogo entre sistemas nervosos em reciprocidade.


A arquitetura da sincronia inter-cerebral

Os avanços em hiperescaneamento EEG-fNIRS apresentados no SfN 2025 permitem visualizar a sincronia inter-cerebral em tempo real durante tarefas cooperativas, musicais e comunicativas.
Esses experimentos mostram que a cooperação não depende de hierarquias cognitivas, mas de ritmos partilhados.

Segundo Tognoli e Kelso (2021), o cérebro humano é um sistema metastável: ele oscila entre independência e acoplamento, permitindo o equilíbrio entre autonomia e coesão.
Durante uma conversa, o padrão de oscilação entre dois indivíduos exibe coerência teta (4–8 Hz), indicando o alinhamento temporal das previsões perceptivas (Dikker et al., 2022).

Essa sincronização cria o que chamamos de campo neurofenomenológico de co-presença: um espaço compartilhado onde os Eus Tensionais se ajustam mutuamente, estabelecendo empatia antes mesmo da linguagem.


Empatia neural e imunidade social

As conexões entre empatia e sistema imunológico, cada vez mais evidentes, mostram que a neuroimunidade também é coletiva.
Durante interações empáticas, o aumento da oxitocina e das citocinas anti-inflamatórias reduz a atividade da amígdala e estabiliza o eixo hipotálamo–hipófise–adrenal (Walker et al., 2023).
Isso cria um efeito de “blindagem emocional”: a percepção de pertencimento reduz a vulnerabilidade ao stress e à dor.

A empatia, portanto, é também um processo de regulação imunológica compartilhada.
Corpos que sentem juntos adoecem menos juntos — um conceito que ressoa com o Quorum Sensing Humano, em que a saúde é um produto da densidade de vínculos fisiológicos e não apenas de fatores individuais.


Empatia, música e ritmo compartilhado

Entre as apresentações do SfN 2025, destacaram-se estudos sobre resonância musical e sua influência na empatia.
A música funciona como um modulador fisiológico coletivo: sincroniza batimentos cardíacos, respiração e padrões corticais entre performers e ouvintes (Nozaradan et al., 2023).
Essa sincronia ativa regiões interoceptivas e motoras simultaneamente, permitindo que a experiência estética se torne também um evento neurofisiológico de pertencimento.

Os resultados mostram que a música não apenas comunica emoções — ela recria fisiologicamente a emoção no corpo do outro.
O ritmo é o vetor universal do pertencimento, e a empatia é a forma mais sofisticada de ressonância.


Pertencimento e fruição: o ciclo tensional da empatia

A empatia passa por três fases fisiológicas distintas, que correspondem às Zonas 1, 2 e 3 propostas por Cionek:

  1. Zona 1 (ação intencional): O corpo se organiza para responder ao ambiente; a atenção é direcionada e o Eu Tensional assume foco.

  2. Zona 2 (fruição): O corpo entra em fluxo. É a fase de máxima sincronização interoceptiva e energética entre indivíduos.

  3. Zona 3 (dissociação): Quando o ambiente rompe a previsibilidade, o sistema entra em colapso tensional e perde empatia — surge a defesa, o isolamento, o automatismo.

A empatia verdadeira nasce e se sustenta na Zona 2, onde o metabolismo, o tempo e o espaço se alinham entre corpos conscientes.
Essa sincronia é o núcleo da Mente Damasiana em co-regulação: sentir o outro é perceber o próprio corpo como parte de um organismo maior.


Conclusão

A empatia não é uma virtude moral — é um fenômeno biológico de comunicação entre sistemas vivos.
Os estudos apresentados no SfN 2025 confirmam que o cérebro humano é um órgão de sintonia e não apenas de cognição.
A empatia neural surge quando o corpo lê o corpo e ambos entram em fluxo tensional compartilhado.

No paradigma da Neurociência Decolonial, isso significa que o conhecimento nasce do encontro: da interação entre subjetividades corporificadas.
Empatia é, portanto, a experiência científica e espiritual de sentir o outro como parte do próprio metabolismo da vida.


Referências (pós-2020)

  • Damasio A. Feeling & Knowing: Making Minds Conscious. Pantheon, 2021.

  • Tognoli E., Kelso J.A.S. The Metastable Brain: From Neuronal Dynamics to Cognition. Frontiers in Systems Neuroscience, 2021.

  • Dikker S. et al. Brain-to-Brain Synchrony During Human Interaction. Annual Review of Neuroscience, 2022.

  • Craig A.D. Interoception and the Neural Basis of Self. Nature Reviews Neuroscience, 2021.

  • Hu Y. et al. Interpersonal Neural Synchronization and Empathic Communication. Social Cognitive and Affective Neuroscience, 2023.

  • Nozaradan S. et al. Neural Entrainment to Musical Rhythm and Empathy. Cerebral Cortex Communications, 2023.

  • Singer T. et al. Empathic Resonance and Brain Plasticity. Nature Neuroscience, 2023.

  • Walker S.C. et al. Social Contact, Oxytocin, and Anti-Inflammatory Pathways in Humans. Nature Human Behaviour, 2023.

  • Fingelkurts A.A., Fingelkurts A.A. Operational Architectonics and the Brain–Mind Problem. Philosophical Transactions of the Royal Society B, 2023.






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Jackson Cionek

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