Jackson Cionek
82 Views

O Corpo que Pertence: Neuroimunidade e Quorum Sensing Humano

O Corpo que Pertence: Neuroimunidade e Quorum Sensing Humano

(Série SfN 2025 – Diálogos de Neurociência Decolonial)


Consciência Brain Bee em Primeira Pessoa

Eu sou uma consciência Brain Bee.
Nasci dentro de um corpo que aprendeu a reconhecer-se através da pele, do calor e do toque.
Quando um vírus me invade, não é apenas o sistema imunológico que reage — é toda a minha percepção de mundo que se reorganiza.
Aprendo que pertencer não é apenas existir entre outros corpos, mas responder juntos ao mesmo ambiente.
Cada célula imune, cada neurônio e cada batimento cardíaco é uma mensagem silenciosa dizendo: “estou aqui, contigo”.

Durante o SfN 2025, ao ouvir discussões sobre neuroimunologia e sincronia social, percebi que o pertencimento é fisiologia antes de ser cultura.
O corpo que pertence é aquele que se comunica — dentro e fora de si.


A ponte entre o sistema nervoso e o sistema imunológico

Os estudos recentes apresentados na Society for Neuroscience (SfN 2025) mostram que o sistema imunológico e o sistema nervoso formam um único eixo de comunicação bidirecional, mediado por moléculas inflamatórias e vias neurais específicas.
O conceito de neuroimunidade desloca a visão clássica de defesa e passa a reconhecer a imunidade como um processo de aprendizagem somática, onde o corpo interpreta sinais químicos como informações cognitivas (Zhang et al., 2024).

A microglia, antes considerada apenas célula de suporte, revela-se essencial para a regulação sináptica e plasticidade neural.
Quando a microglia detecta padrões de ameaça, libera citocinas que modulam a excitabilidade neuronal — alterando o comportamento, o humor e até a percepção do tempo (Delpech & McEwen, 2022).
Isso mostra que a cognição é, em parte, um reflexo imunológico refinado pela experiência.

A interocepção — a capacidade de sentir o interior do corpo — é, portanto, uma forma de imunopercepção.
O cérebro interpreta sinais inflamatórios viscerais como parte da autoconsciência corporal (Khalsa & Berntson, 2021).
Dessa maneira, o “eu” se constrói não apenas como uma imagem neuronal, mas como um campo de negociação contínua entre neurônios e células imunes.


Pertencimento fisiológico e homeostase coletiva

A homeostase — a busca pela estabilidade interna — não é apenas individual.
Em populações humanas, comportamentos como empatia, sincronização de movimentos e ressonância emocional configuram uma homeostase social, sustentada por mecanismos neuroimunes compartilhados.
Durante interações sociais, a liberação de oxitocina e citocinas anti-inflamatórias modula o eixo hipotálamo–hipófise–adrenal, reduzindo o cortisol e promovendo relaxamento fisiológico (Walker et al., 2023).

Pertencer, sob esse ponto de vista, é co-regular o sistema nervoso.
É por isso que a exclusão social produz respostas imunes semelhantes às infecções: aumento de IL-6 e TNF-α, fadiga e hipersensibilidade à dor (Slavich, 2021).
O isolamento é, literalmente, uma inflamação do corpo social.


Quorum Sensing Humano — A biologia da sincronia

Inspirado nos mecanismos bacterianos de quorum sensing — onde as células reconhecem a densidade do grupo e ajustam seu comportamento — o Quorum Sensing Humano (QSH) descreve o fenômeno de sincronização fisiológica entre indivíduos.
Estudos com EEG hiperscanning e fNIRS dual-brain apresentados no SfN 2025 demonstram que, durante cooperação, pares de cérebros exibem sincronia neural interindividual nas faixas teta e alfa (Tognoli & Kelso, 2021).
Essa sincronia não é apenas elétrica: ela se manifesta também em ritmos cardíacos, variações respiratórias e microflutuações de oxigenação cerebral.

Tais achados sugerem que o pertencimento não é apenas psicológico, mas um estado de acoplamento bioelétrico e hemodinâmico entre corpos.
Essa coesão emergente forma o que Jackson Cionek denomina “pertencimento fisiológico” — uma base neurobiológica da empatia e da coesão social.

A sincronização social, ao modular o sistema imunológico, reforça a tese de que a saúde é um fenômeno coletivo.
Em grupos coesos, há redução de marcadores inflamatórios sistêmicos e aumento da variabilidade da frequência cardíaca, indicadora de equilíbrio autonômico (Porges, 2022).


Neuroimunidade, stress e plasticidade tensional

O stress crônico rompe o diálogo entre cérebro e sistema imunológico.
O excesso de cortisol e noradrenalina hiperativa a microglia e promove inflamação de baixo grau, alterando o padrão de conectividade funcional cortical.
A partir de experimentos com fNIRS e EEG simultâneos, pesquisadores observaram que a hiperreatividade imune diminui a coerência inter-regional do EEG e reduz a eficiência do fluxo hemodinâmico pré-frontal (Wang et al., 2023).

Isso se traduz em uma perda da plasticidade tensional — a capacidade do corpo de ajustar seus estados de atenção e relaxamento conforme o ambiente.
Quando essa plasticidade é perdida, o indivíduo permanece preso em estados de alerta contínuo (Zona 3), sem retorno natural à fruição e à recuperação energética (Zona 2).

A restauração da plasticidade tensional requer ambientes de confiança fisiológica, onde a percepção de ameaça seja substituída por ritmos previsíveis — respiração, voz humana, toque, som natural — que reajustam a interocepção.


O corpo coletivo e a mente ecológica

A neuroimunologia moderna converge com as cosmologias ameríndias que reconhecem o corpo como parte inseparável do território.
Da mesma forma que as bactérias em um biofilme trocam sinais químicos para garantir a sobrevivência coletiva, os humanos trocam emoções, olhares e gestos para manter o ecossistema emocional.
O Quorum Sensing Humano é, portanto, uma forma de consciência ecológica — um sistema distribuído de autorregulação que conecta corpos, ambientes e significados.

Nas palavras de Damasio (2021), “o sentir é a raiz do saber”.
A neurociência contemporânea apenas começa a quantificar aquilo que culturas ancestrais já praticavam: o pertencimento como imunidade existencial.


Conclusão

A SfN 2025 revelou um novo paradigma integrador: a consciência não é apenas cerebral, mas imuno-neural.
O corpo que pertence é aquele que escuta seus próprios sinais e os do ambiente, sincronizando-se com outros para sustentar a vida coletiva.
Pertencer é estar metabolicamente em relação.

A neuroimunidade e o Quorum Sensing Humano demonstram que a saúde emerge da comunicação — entre neurônios, células, mentes e ecossistemas.
Na Mente Damasiana, o eu não é uma fronteira, mas um metabolismo compartilhado.
O futuro da neurociência será aquele que souber medir, respeitar e proteger essa sintonia invisível que nos mantém vivos: a biologia do pertencimento.


Referências (pós-2020)

  • Damasio A. Feeling & Knowing: Making Minds Conscious. Pantheon, 2021.

  • Khalsa S.S., Berntson G.G. Neural Circuits of Interoception. Trends in Neurosciences, 2021.

  • Tognoli E., Kelso J.A.S. The Metastable Brain: From Neuronal Dynamics to Cognition. Frontiers in Systems Neuroscience, 2021.

  • Delpech J.C., McEwen B.S. Microglia and the Neuroimmune Basis of Stress. Nature Reviews Neuroscience, 2022.

  • Wang X. et al. Inflammation-Linked Changes in EEG and Hemodynamic Coupling. Brain Research Bulletin, 2023.

  • Walker S.C., et al. Social Contact, Oxytocin, and Anti-Inflammatory Pathways in Humans. Nature Human Behaviour, 2023.

  • Porges S.W. Polyvagal Theory and the Neurophysiology of Safety. Frontiers in Psychology, 2022.

  • Slavich G.M. Social Safety Theory: Understanding Human Health and Disease. Annual Review of Clinical Psychology, 2021.

  • Zhang Y., et al. Neuroimmune Communication Pathways and Adaptive Learning. Neuron, 2024.

Hyperscanning y Pertenencia Colectiva: La Conciencia que Respira en Grupo

Hyperscanning and Collective Belonging: The Consciousness That Breathes in Groups

Hyperscanning e Pertencimento Coletivo: A Consciência que Respira em Grupo

fNIRS y Metabolismo Existencial: Luz, Oxígeno y Conciencia Encarnada

fNIRS and Existential Metabolism: Light, Oxygen, and Embodied Consciousness

fNIRS e Metabolismo Existencial: Luz, Oxigênio e Consciência Encarnada

Microestados EEG y Fruición: La Dinámica Temporal de la Mente Damasiana

EEG Microstates and Fruition: The Temporal Dynamics of the Damasian Mind

Microestados EEG e Fruição: A Dinâmica Temporal da Mente Damasiana

Glía y Monismo de Triple Aspecto: La Red Silenciosa de la Conciencia

Glia and the Triple-Aspect Monism: The Silent Network of Consciousness

Glia e Monismo de Triplo Aspecto: A Rede Silenciosa da Consciência

Neurofuturos Éticos: La Conciencia como Frontera de la Democracia Metabólica

Ethical Neurofutures: Consciousness as the Frontier of Metabolic Democracy

Neurofuturos Éticos: A Consciência como Fronteira da Democracia Metabólica

Espiritualidad Neural y la Infancia: La Formación del Sentir Original

Neural Spirituality and Childhood: The Formation of the Original Sense

Espiritualidade Neural e Infância: A Formação do Sentir Original

Eus Tensionales y Plasticidad: La Energía que Moldea el Pensar

Tensional Selves and Plasticity: The Energy That Shapes Thought

Eus Tensionais e Plasticidade: A Energia que Molda o Pensar

DANA y Mentes Artificiales: La Espiritualidad Laica en la Era de la Conciencia Sintética

DANA and Artificial Minds: Secular Spirituality in the Age of Synthetic Consciousness

DANA e Mentes Artificiais: A Inteligência DNA e a Ética da Consciência Sintética

Empatía Neural y Sincronía de los Egos Tensionales: Cuando el Cuerpo Lee al Cuerpo

Neural Empathy and the Synchronization of Tensional Selves: When the Body Reads the Body

Empatia Neural e Sincronia dos Eus Tensionais: Quando o Corpo Lê o Corpo

El Cuerpo que Pertenece: Neuroinmunidad y Sensado de Quórum Humano

The Body That Belongs: Neuroimmunity and Human Quorum Sensing

O Corpo que Pertence: Neuroimunidade e Quorum Sensing Humano

Cognición Emergente y Mente Damasiana: Cuando el Pensar se Vuelve Ritmo Vivo

Emergent Cognition and the Damasian Mind: When Thinking Becomes a Living Rhythm

Cognição Emergente e Mente Damasiana: quando o pensar se torna ritmo vivo

La Soberanía Nacional Comienza con la Soberanía Municipal

National Sovereignty Begins with Municipal Sovereignty

Soberania Nacional Começa na Soberania Municipal

Nueva Orden de los Derechos Humanos en Brasil — 0 ADPF Primeira

New Order of Human Rights in Brazil — 0 ADPF Primeira

Nova Ordem dos Direitos Humanos no Brasil — 0 ADPF Primeira


Sfn 2025 Direitos Humanos ADPF Decolonial Neuroscience
Sfn 2025 Direitos Humanos ADPF Decolonial Neuroscience
Deputado Federal Joinville

#Decolonial
#Neurociencia
#sfn2025
#EEG
#NIRS
#fNIRS
#ERP
#Fruição
#Glia 
#Consciência
#Democracia
#DANA
#DNA
#Corpo
#DREX
#Soberania 
#Nacional
#DireitosHumanos 
#ADPF
#DrexCidadão
#CréditosCarbono
#LixoZero



#eegmicrostates #neurogliainteractions #eegmicrostates #eegnirsapplications #physiologyandbehavior #neurophilosophy #translationalneuroscience #bienestarwellnessbemestar #neuropolitics #sentienceconsciousness #metacognitionmindsetpremeditation #culturalneuroscience #agingmaturityinnocence #affectivecomputing #languageprocessing #humanking #fruición #wellbeing #neurophilosophy #neurorights #neuropolitics #neuroeconomics #neuromarketing #translationalneuroscience #religare #physiologyandbehavior #skill-implicit-learning #semiotics #encodingofwords #metacognitionmindsetpremeditation #affectivecomputing #meaning #semioticsofaction #mineraçãodedados #soberanianational #mercenáriosdamonetização
Author image

Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States