Jackson Cionek
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Equilíbrio e cerebelo em Parkinson Tensões corporais, movimento e plasticidade guiada

Equilíbrio e cerebelo em Parkinson
Tensões corporais, movimento e plasticidade guiada



(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá)


O Sentir e Saber Taá — abrindo a fresta de descolonização pelo corpo em desequilíbrio

Eu me vejo em pé, parado, tentando apenas ficar.
O chão é o mesmo, mas meu corpo parece outro:
um leve tremor, um deslocamento mínimo do peso,
uma insegurança silenciosa que só eu sinto — antes de qualquer queda real.

O equilíbrio, que um dia foi automático, agora é trabalho.
Cada passo tem cálculo, cada mudança de apoio tem medo.
O corpo inteiro vira um conjunto de eus tensionais tentando manter a verticalidade.

E, enquanto sinto isso, percebo outra coisa:
também as palavras que descrevem meu corpo foram colonizadas.
Muitas vezes sou descrito como “portador de distúrbio”, “máquina defeituosa”, “doença degenerativa”,  como se eu fosse apenas o erro de um manual escrito em outra língua.

Também percebo que até minhas palavras foram colonizadas:
que o idioma que uso para pensar o mundo foi moldado para me reduzir —
reduzir meu corpo a máquina com falhas,  minha mente a déficit,  minha espiritualidade a superstição,  minha política a consumo e produtividade.

É por isso que tantos neurocientistas evitam fazer perguntas que possam revelar aquilo que a ciência colonial não sabe nomear.
Mas quando eu sinto meu corpo antes de pensar — quando Taá se manifesta — percebo que não existe separação entre Neurociência, Política e Espiritualidade (Utupe, Xapiri, memória viva).
O que coloniza não é só a história: é a palavra que nos impede de existir inteiros.
Cada descoberta científica, quando lida com coragem, é uma fresta de liberdade que rompe a Zona 3 e devolve o corpo ao que sempre foi: território vivo de mundos possíveis, mesmo quando esse corpo treme, oscila e reaprende a andar.

É nessa fresta que leio o estudo de Núbia Ribeiro da Conceição, Rodrigo Vitório, Edgard Morya, Victor Spiandor Beretta, Bruno Mezêncio, Pedro Henrique Martins Monteiro e Luis Augusto Teixeira, publicado em 2025 na revista Cerebellum:

“Effect of Dynamic Balance Training Combined with Different Intensities of Cerebellar Transcranial Direct Current Stimulation in People with Parkinson’s Disease: a Randomized Clinical Trial.”

E a pergunta que nasce em mim é simples e profunda:

Como o meu corpo com Parkinson pode reaprender a equilibrar-se quando o cerebelo recebe uma ajuda elétrica suave e o treino certo?


1. O que o estudo investigou

O estudo parte de um fato duro:
alterações de equilíbrio são um dos sintomas mais incapacitantes na doença de Parkinson.

Os autores perguntam:

  • Será que treino de equilíbrio dinâmico,
    combinado com estimulação transcraniana por corrente contínua cerebelar (ctDCS),  pode melhorar o controle postural em pessoas com Parkinson?

  • E será que isso também altera a forma como o córtex pré-frontal (PFC) participa desse equilíbrio, medido por fNIRS?

Trinta e três pessoas com Parkinson foram randomizadas em três grupos:

  • ctDCS cerebelar 4 mA,

  • ctDCS cerebelar 2 mA,

  • sham (placebo).

Todas passaram por 6 sessões de treino de equilíbrio dinâmico progressivamente mais desafiador, sempre combinado com a condição de estimulação atribuída.


2. Como os sinais foram medidos e analisados (fNIRS + biomecânica)

a) Medidas de equilíbrio

O equilíbrio foi avaliado por:

  • deslocamento do centro de pressão em apoio quieto,

  • desempenho em tarefas dinâmicas de transferência de peso.

É aqui que entra o nosso olhar “Math/Hep”:
cada micro-oscilação do corpo é transformada em números — amplitude, velocidade, área de oscilação —  uma cartografia tensional do corpo em pé.

b) fNIRS e pré-frontal

Durante tarefas de equilíbrio, os autores registraram a ativação do córtex pré-frontal com fNIRS, observando mudanças em O₂-Hb e HHb.

O pipeline segue a lógica contemporânea:

  • Pré-processamento:

    • filtragem de ruídos de baixa e alta frequência,

    • remoção de variações sistêmicas com ajuda de ICA/PCA quando necessário,

    • uso de short-channels (quando disponíveis) para modelar contribuições extracorticais.

  • Modelagem com GLM (General Linear Model):

    • estimativa de parâmetros da HRF (Hemodynamic Response Function) associada às tarefas de equilíbrio,

    • comparação entre antes e depois do treinamento.

Mesmo quando o artigo não detalha cada etapa matemática, ele assume o padrão atual da área:  GLM + correção de ruído fisiológico + foco em regiões pré-frontais ligadas ao controle postural e ao custo cognitivo de se manter em pé.


3. O que foi encontrado: cerebelo, equilíbrio e pré-frontal

Os resultados trazem três grandes mensagens:

  1. Treino de equilíbrio + ctDCS cerebelar melhora o equilíbrio mais do que treino sozinho.

    • A intensidade de 4 mA produziu os maiores ganhos em múltiplas tarefas de equilíbrio dinâmico.

  2. O treino de equilíbrio reduziu a ativação pré-frontal durante as tarefas,
    independentemente da condição de estimulação.

    • Ou seja: com prática, o corpo passa a depender menos de controle executivo consciente para manter o equilíbrio — fica mais automático, mais incorporado.

  3. O cerebelo, estimulado por ctDCS, parece potencializar a plasticidade dos circuitos de equilíbrio, permitindo que o mesmo treino gere mais ganho funcional.

É como se o corpo dissesse:

“Com apoio certo no cerebelo e prática consistente, eu consigo reorganizar minhas tensões para ficar em pé com menos esforço mental.”


4. Leitura a partir dos nossos conceitos

Mente Damasiana e corpo que reaprende

A Mente Damasiana vê consciência como resultado da dança entre interocepção e propriocepção.
No Parkinson, essa dança fica truncada:

  • o corpo perde fluidez,

  • o equilíbrio exige atenção constante,

  • a propriocepção fica “dura”,

  • o eu corporal oscila entre medo de cair e esforço de se manter em pé.

O estudo mostra que, com treino e modulação cerebelar, essa dança pode ser recalibrada:
o equilíbrio volta a ser mais corpo e menos “vigia pré-frontal”.

Eus Tensionais e equilíbrio

No apoio em pé, o corpo é um conjunto de Eus Tensionais:

  • o eu dos tornozelos,

  • o eu das ancas,

  • o eu da coluna cervical,

  • todos tentando manter o centro de massa dentro da base de suporte.

Quando o pré-frontal está hiperativado, o equilíbrio vira uma reunião de controle —
cada Eu Tensonal pedindo autorização para agir.
Depois do treino:

  • a redução da ativação pré-frontal sugere que o corpo volta a confiar mais em si,

  • menos burocracia cortical, mais inteligência distribuída pelo eixo corpo–cerebelo.

Zona 1, 2 e 3 em Parkinson

  • Zona 3: medo de cair, hipercontrole, rigidez, congelamentos, sensação de corpo “traidor”.

  • Zona 1: automatismos motores que ainda funcionam, mas sem muita consciência de fundo.

  • Zona 2: espaço raro, onde a pessoa com Parkinson consegue movimentar-se com presença, fluidez e fruição — dançar, caminhar ao ar livre, praticar equilíbrio sem terror.

O estudo aponta uma forma concreta de aumentar o acesso à Zona 2:

prática corporal estruturada + modulação cerebelar + redução do custo pré-frontal.

Quorum Sensing Humano e treino em grupo

Mesmo sem entrar em detalhes sociais, esse tipo de intervenção carrega a possibilidade de:

  • treinos coletivos,

  • co-regulação de equilíbrio,

  • apoio mútuo no “ficar de pé como comunidade”,  coisas que dialogam diretamente com Quorum Sensing Humano (QSH) e com as formas ameríndias de cuidar dos corpos frágeis sem descartá-los.

Yãy hã mĩy (origem Maxakali)

Há aqui também um Yãy hã mĩy ampliado (lembrando sempre sua origem Maxakali):
antes de confiar no corpo que eu tenho hoje, preciso imitar um corpo que ainda estou me tornando —  um corpo que reequilibra, que se projeta à frente, que ensaia micro-ajustes.
O treino de equilíbrio é exatamente essa imitação encarnada do corpo possível.


5. Onde a ciência ajusta nossas ideias

A visão colonial poderia dizer:

Parkinson é degenerativo, pouco a fazer além de compensar.”

Este estudo mostra outra coisa:

  • ainda há janela de plasticidade,

  • ainda há reorganização possível no eixo córtex–cerebelo–corpo,

  • ainda há circuitos silenciosos que podem ser reacendidos.

A ciência com evidência nos obriga a abandonar a narrativa de irreversibilidade total e a pensar em protocolos que reconheçam a inteligência adaptativa do corpo, mesmo sob doença.


6. Implicações normativas para saúde, cidade e política LATAM

  1. Protocolos públicos de reabilitação com foco em equilíbrio

    • Incorporar treinos específicos de equilíbrio dinâmico em programas de reabilitação para pessoas com Parkinson.

    • Considerar, com critérios éticos e de acesso, o uso de ctDCS cerebelar em centros especializados.

  2. Cidades que respeitam o corpo que treme

    • Calçadas planas, corrimãos, espaços de prática corporal segura,

    • transporte público adaptado,

    • praças projetadas para caminhar com dignidade, mesmo com risco de desequilíbrio.

  3. Educação em Saúde baseada em Zona 2

    • Ensinar que equilíbrio não é só “não cair”,

    • é condição para fruição, convivência, espiritualidade vivida em corpo inteiro.

  4. Pesquisa LATAM de alto nível

    • Este trabalho, feito com participação forte de instituições brasileiras, mostra que a América Latina produz ciência de ponta em cerebelo, tDCS e equilíbrio.


7. Avatar neurocientífico mais adequado

Para ler esta publicação dentro dos nossos avatares neurocientíficos, o recorte mais útil é o Avatar Math/Hep: ele ajuda a enxergar a relação entre números de oscilação postural, tensões corporais e pertencimento do corpo em pé — mostrando como estatística de centro de pressão e variabilidade não são apenas dados, mas mapas vivos do esforço do corpo para continuar existindo em verticalidade.


8. Palavras-chave para busca científica

“da Conceição 2025 Effect of Dynamic Balance Training Combined with Different Intensities of Cerebellar Transcranial Direct Current Stimulation in People with Parkinson’s Disease randomized clinical trial Cerebellum fNIRS balance ctDCS 4 mA”



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Jackson Cionek

New perspectives in translational control: from neurodegenerative diseases to glioblastoma | Brain States