Realidade Mista e Decisão Como o cérebro avalia protótipos e mundos híbridos
Realidade Mista e Decisão
Como o cérebro avalia protótipos e mundos híbridos
(Consciência em Primeira Pessoa • Neurociência Decolonial • Brain Bee • O Sentir e Saber Taá)
O Sentir e Saber Taá
Eu seguro um objeto que existe e não existe.
Ele está na minha mão pela metade — parte física, parte digital, parte imaginada.
Meu corpo quer agarrá-lo; minha mente ainda não sabe se deve confiar.
O curioso é que eu sinto a decisão chegando antes de entendê-la:
um microajuste no punho,
uma contração no antebraço,
um foco repentino no olhar,
um deslocamento respiratório sutil.
É como se meu corpo julgasse o objeto primeiro —
e só depois minha mente criasse a narrativa:
“isso funciona”,
“isso não funciona”,
“isso me lembra algo verdadeiro”.
Esse fenômeno é o coração do estudo publicado em Journal of Cognitive Neuroscience (2025):
“Neural evaluation of mixed-reality prototypes during decision-making”
(busca: JOCN 2025 mixed reality decision evaluation fNIRS EEG)
O estudo pergunta:
Como o cérebro decide quando está diante de algo que é metade real, metade possibilidade?
1. O contexto: protótipos, decisão e mundos híbridos
O uso de realidade mista (MR) — combinação de ambiente real + elementos digitais interativos — já não é apenas uma questão tecnológica; é uma questão perceptiva e corporal.
Quando avaliamos algo que não existe “completamente”, o cérebro precisa:
prever,
simular,
comparar,
testar coerência,
projetar consequências.
Esses processos ativam consciência e corpo simultaneamente.
2. O método: fNIRS + EEG para capturar a decisão híbrida
(ICA, GLM, short-channels, FFT)
O estudo combina fNIRS pré-frontal e EEG para captar tanto:
a hemodinâmica lenta da decisão,
quanto a dinâmica rápida das oscilações corticais.
Pipeline técnico:
1. EEG com ICA e FFT
ICA remove artefatos musculares e oculomotores;
FFT identifica oscilações associadas à tomada de decisão (beta → escolha; theta → conflito).
2. fNIRS pré-frontal com GLM e short-channels
GLM detecta padrões hemodinâmicos de avaliação;
short-channels removem ruído extracortical;
análise de forma e amplitude da HRF.
3. Fusão multimodal EEG–fNIRS
Comparação temporal entre:
“pré-decisão elétrica” no EEG
e “decisão hemodinâmica” no fNIRS
4. Decoding neural
Modelos multivariados tentam prever:
se o participante aceitará ou rejeitará o protótipo.
MR não é apenas tecnologia — é fisiologia.
3. Resultados: decidir em realidade mista é mais difícil do que parece
Os autores encontram três efeitos principais:
1. Pré-frontal trabalha mais
A hemodinâmica pré-frontal é maior quando o objeto é híbrido do que quando é totalmente real.
Isso sugere:
decidir sobre possibilidades exige mais energia do que decidir sobre objetos existentes.
2. Oscilações theta indicam incerteza
Quando o protótipo não parece confiável:
aumenta a banda theta (EEG), associada a conflito e monitoramento.
3. A decisão nasce antes da consciência
O EEG antecipa a escolha em cerca de 300–500 ms antes do relato consciente.
O corpo chega primeiro.
A narrativa chega depois.
4. Leitura com nossos conceitos
a) Taá — sentir antes de saber
A MR exige mais Taá porque:
não há referência 100% corporal,
o objeto é parcialmente imaginado,
o corpo precisa “iniciar uma simulação”.
Isso amplia a importância da primeira pessoa e do Corpo Território nos processos de design e inovação.
b) Eus Tensionais em mundos híbridos
Avaliar protótipos cria um Eu Tensonal de antecipação, marcado por:
hesitação,
micro-ajustes motores,
tensão interoceptiva.
Esse Eu é fisiologicamente mensurável tanto no EEG quanto no fNIRS.
c) Zona 2 — criatividade e teste de futuros
Em MR, o cérebro entra com frequência em Zona 2:
a zona do possível,
da fruição criativa,
de imaginar futuros.
A hemodinâmica mais intensa é o preço cognitivo de criar realidades.
d) Mente Damasiana
O estudo confirma a ideia de que:
Consciência é o corpo situando-se em mundos —
mesmo mundos que ainda não existem.
5. Onde a ciência corrige nossas percepções
Antes poderíamos pensar:
“avaliar um protótipo é igual avaliar um objeto real.”
A evidência mostra:
há mais conflito,
mais atividade pré-frontal,
mais carga cognitiva,
mais oscilação elétrica,
mais variabilidade hemodinâmica.
MR não é um espelho do real;
é uma ampliação do real.
6. Implicações normativas para educação, inovação e políticas LATAM
1. Inovação baseada no corpo
Avaliar produtos em MR exige considerar:
fadiga cognitiva,
carga atencional,
Zona 2 como catalisadora de pensamento criativo.
2. Escolas de design mais corporificadas
A avaliação de protótipos digitais deve incluir:
pausas fisiológicas,
treinos de percepção,
exercícios de respiração e interocepção.
3. Políticas urbanas e culturais
Cidades latinas poderão adotar MR em:
pré-visualização de obras públicas,
participação cidadã,
deliberação comunitária.
Mas é preciso garantir:
acessibilidade cognitiva,
proteção contra sobrecarga sensorial.
4. Neurodireitos
Se MR intensifica conflito pré-frontal, regulamentações devem:
evitar sobre-estímulo invasivo,
proteger autonomia da decisão.
7. Palavras-chave de busca científica
“mixed reality prototype evaluation EEG fNIRS GLM ICA theta prefrontal decision JOCN 2025”